Infectologista do HBDF adverte sobre os riscos crescentes e a necessidade de ações preventivas.
No Brasil, a dengue é uma ameaça constante, e os números alarmantes divulgados pelo Ministério da Saúde, o Brasil já registrou mais de 3 milhões de casos de dengue em 2024. Alguns estados e o Distrito Federal vêm apresentando uma tendência de queda e outros, como Bahia, Alagoas, Pernambuco e Maranhão, apresentam um aumento do número de casos.
“A dengue é endêmica no Brasil, com casos durante todo o ano e um padrão sazonal que coincidem com períodos mais quentes e chuvosos, aumentando o risco de epidemias”, alerta o médico infectologista e coordenador do Núcleo de Controle de Infecções do HBDF, Julival Ribeiro.
Com estimativas preocupantes, o Brasil pode atingir até 5 milhões de casos de dengue neste ano, com implicações ao calor intenso, ao volume de chuvas e à circulação dos sorotipos 3 e 4 do vírus. A situação é tão crítica que a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu a dengue entre as doenças mapeadas com potencial pandêmico.
Estudos recentes, como realizado pelo pesquisador Christovam Barcellos, da Fiocruz, em artigo publicado na revista Scientific Reports (2024), a doença vem se espalhando para as regiões sul e centro-oeste do país, onde historicamente a incidência é menor. A expansão da doença nessas regiões está diretamente associada à frequência cada vez maior de eventos climáticos extremos, como secas e inundações. O autor também cita a manipulação ambiental, especialmente no cerrado, como importante influência. Outros fatores que afetam a proteção do mosquito são: saneamento básico inadequado, ocupações irregulares, monitoramento inadequado do mosquito Aedes aegypti, crescimento populacional, rápida urbanização, entre outros fatores, o que eleva consideravelmente os riscos de infecções transmitidas por que se multiplicam nessas condições áreas vulneráveis, com risco elevado para a população urbana.
“A prevenção e o controle da dengue devem ser uma responsabilidade compartilhada, envolvendo famílias, comunidades e políticas públicas”, ressalta o infectologista.
Além disso, o aquecimento global tem agravado o problema, com o surgimento de casos autônomos de dengue em países europeus, atribuídos às mudanças climáticas. A OMS destaca a importância de fortalecer a rede de serviços de saúde e intensificar as campanhas de conscientização para conter a propagação da doença.
Diante do cenário, o sistema de saúde enfrenta desafios adicionais, como a pandemia da Covid-19 e a epidemia de dengue sobrecarregando os serviços de atendimento. “É fundamental um planejamento estratégico para enfrentar essas crises de saúde pública”, alerta Ribeiro.
Em meio à epidemia de dengue, a busca por atendimento precoce é essencial. “A realização de exames e a capacidade de internação para casos graves podem impactar diretamente no prognóstico da doença, que pode ter consequências graves e até fatais”, destaca o especialista.
A dengue é uma enfermidade com potencial para desdobramentos graves e, em casos extremos, fatais. Neste contexto, é fundamental adotar a abordagem “One Health”, uma estratégia global, científica e multidisciplinar para garantir a saúde e o bem-estar de humanos, animais e do meio ambiente. “Tudo está interligado, e é essencial adotarmos uma visão vasta na promoção da saúde”, conclui o Dr. Julival Ribeiro.