O setor de alimentação fora do lar conta com mais de 1,6 milhão de mulheres empregadas. Representatividade feminina é observada na história da família Sena; matriarca, filhas e netas conduzem o próprio negócio há 42 anos
O cenário do setor de bares e restaurantes aponta dados positivos quando colocada a discussão sobre a presença das mulheres. As estatísticas do IBGE, analisadas pela Abrasel, revelam que as mulheres compõem 54% da mão de obra formal no ramo de alimentação fora do lar. No âmbito informal, esse índice atinge 56%. O setor conta com mais de 1,6 milhão de mulheres trabalhadoras.
A presença das mulheres também é observada na gestão dos negócios de alimentação fora do lar. Segundo levantamento da Abrasel, o percentual de mulheres sócias no setor de alimentação chega a 38,22%. O índice é maior do que em outros setores, como agropecuária (36,61%), comércio (35,15%), construção civil (24,10%) e indústria (30,63%).
A história da família de Ana Amor Sena é um exemplo da força feminina no empreendedorismo de bares e restaurantes. Uma demissão repentina transformou a vida de Ana e suas filhas, em Macapá (AP), quando a matriarca foi afastada sem justificativas pela empresa em que trabalhava. Para manter as contas pagas e o sustento da casa, Ana passou a vender salgados para amigos e vizinhos; o capricho e sabor dos quitutes conquistaram o público.
Ao todo, foram oito anos na modalidade informal. Com o apoio das filhas Ana Cleide, Ana Cláudia, Ana Kátia e Ana Cristina, a matriarca da família conseguiu manter o negócio funcionando e, o que começou como uma alternativa para o desemprego, se transformou na principal fonte de renda de Ana Sena. Com o sucesso e esforço das mulheres da família, o empreendimento ganhou nome e foi regularizado. Atualmente, a Cris Lanches já conta com 42 anos de funcionamento.
Ana Cleide Sena, filha de Ana Sena, relembra a trajetória da mãe e o começo do empreendimento. Para ela, o apoio da comunidade foi fundamental para a conquista do que hoje é a Cris Lanches. “Houve períodos em que não tínhamos encomendas e outros em que éramos bastante requisitados. Diferentemente dos dias atuais, nos quais temos a facilidade da internet para buscar receitas, naquela época dependíamos de pedir ajuda a pessoas que possuíam receitas. Foi assim que esse empreendimento começou, com o apoio da comunidade para seguir adiante”, conta Ana Cleide.
Apesar da conquista, a trajetória de Ana Sena contou com desafios. Quem relembra as dificuldades vivenciadas pela matriarca da família é a neta, também empreendedora no setor, Cibelle Sena. Ela lembra que a avó utilizava utensílios simples para fritar seus salgados, e que até hoje, mesmo com idade avançada, a matriarca da família ainda se preocupa com a qualidade dos produtos.
“Minha avó foi uma guerreira; era uma mãe que precisava elaborar uma estratégia para garantir o sustento da família, composta por cinco mulheres e um homem. Diante dessa situação, as demais mulheres se envolveram no negócio, decidiram arregaçar as mangas, aprender e seguir em frente”, destaca Cibelle Sena.
Atualmente, grande parte das mulheres da família segue auxiliando no negócio, enquanto outras empreendem em diferentes áreas. Mesmo com as dificuldades enfrentadas, Ana Sena serviu como um exemplo para as filhas e netas que carregam consigo a força do empreendedorismo feminino.
A história da família Sena assemelha-se à de várias mulheres que descobrem nos bares e restaurantes não apenas uma fonte de renda, mas também um caminho para o autodescobrimento.