Muito se tem falado que “a inteligência artificial” (IA), ou algoritmos de IA, como o ChatGPT, vai substituir sua profissão ou até mesmo roubar seu emprego. De certa forma, vai. Mas isso quer dizer que meu emprego está realmente em risco? Sim e não. Para entender isso, precisamos voltar no tempo e recordar um passado não tão distante.
Nos anos 1800, a Revolução Industrial já caminhava com alguma musculatura e havia temores e revoltas de que o tear mecânico substituiria o tecelão e o artesão. Isso fez com que dezenas de teares fossem incendiados e muitos trabalhadores fossem presos na Inglaterra. Obviamente, isso não impediu o avanço da modernização dos parques industriais.
Num passado mais recente, nas décadas de 1960 a 1980, esse temor foi ressuscitado quando as fábricas de automóveis automatizaram suas linhas de produção. Houve greves, protestos e toda sorte de reivindicações, pois acreditava-se que “os robôs tirariam o emprego de vários trabalhadores”. Mais uma vez, esse movimento de oposição foi infrutífero.
Em um passado ainda mais recente, surgiram questionamentos e protestos semelhantes durante a implementação da chamada indústria 4.0, que ainda está em curso no Brasil e no mundo.
Chegando aos dias atuais, há o temor de que a IA venha a causar desemprego. Vamos analisar isso. Um algoritmo de IA, em essência, não é bom nem mau, e não substitui o ser humano em nada por iniciativa própria. São programas de computador criados por programadores que interpretam linguagens e que são capazes de aprender por meio de outros programas de computador. Basicamente, trata-se de matemática, muita matemática.
Por outro lado, esses algoritmos têm demonstrado habilidades na linguagem e, cada vez mais, gerado textos com competência. E aí surgem alguns conflitos. Gerar texto era uma atividade exclusivamente humana. As profissões que envolvem a produção de texto enfrentam certo grau de ameaça. Mas ameaça de quê, exatamente? A IA não gera nada por si, mas facilita – e muito – a escrita. Logo, a produtividade aumenta de modo significativo e, naturalmente, a quantidade de empregos diminuirá. Não porque a IA substituirá o trabalhador, mas porque, como os robôs em uma fábrica, o trabalho será realizado mais rapidamente. Isso afetará diretamente todos os que trabalham nesse setor como advogados, jornalistas, comunicadores, entre outros. Portanto, as profissões não desaparecerão, mas os profissionais dessas áreas precisarão se adaptar a mudanças e, inevitavelmente, o número de empregos será menor. Mas aqueles que aprenderem a usar a ferramenta de IA a seu favor terão um futuro profissional garantido.
Para as futuras gerações, não adianta fazer protestos e brigar contra uma tecnologia emergente. Observando o passado, parece mais sábio aprender a utilizar suas qualidades e se adaptar. Por sinal, ser adaptável é uma característica do povo brasileiro. O novo mundo que surge requer investimentos individuais em educação, treinamento e atitude empreendedora. Infelizmente, o brasileiro parece não valorizar muito essas qualidades.
Encerro este texto – que não foi gerado por IA – incentivando a compreensão de que essas mudanças dependem muito mais de cada indivíduo do que do governo. Cabe a cada leitor brasileiro buscar o aperfeiçoamento. Sempre. Nossas profissões podem ser substituídas e precisamos estar preparados para as novas profissões que surgirão. E isso depende de você, nobre brasileiro que me lê; não de uma IA ou do governo.
*Alysson Nunes Diógenes, engenheiro eletricista, doutor em Engenharia Mecânica (UFSC), é professor do Mestrado e Doutorado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo (UP).