Opinião: A insuperável crise sudanesa e a incerteza da paz

 

João Alfredo Lopes Nyegray e Lúcia Marya Mendes da Rocha*


O Sudão, país africano que também é o mais novo no mundo, tendo surgido em 2011, vem sendo assolado por uma guerra civil que, desde o começo de 2023, tem gerado milhares de vítimas de violência e morte todos os dias, em sua grande maioria civis. Isso se dá pelo conflito instaurado entre o líder das Forças Armadas Sudanesas, Abdel Fattah al-Burhan, e o comandante dos grupos paramilitares denominado Forças de Apoio Rápido (RSF, sua sigla em inglês), Mohamed Hamdan Dagalo. Ambos trabalhavam juntos para derrubar o antigo regime de Omar al-Bashir, tentando uma nova administração para o governo do país.

Entretanto, após o golpe organizado por Burhan e Dagalo em 2019, algumas objeções foram surgindo de ambas as partes a respeito da nova administração, elevando o nível de tensão entre as figuras militares sudanesas. O estopim da atual guerra civil se deu no processo de anexação da RSF nas Forças Armadas, gerando uma série de incógnitas sobre quem iria comandar as tropas. Em consequência, no dia 15 de abril de 2023, a cidade de Cartum, capital do Sudão, foi bombardeada dando início ao conflito que já se estende há mais de quatro meses. 

Essa guerra, como todas, vem com vítimas. Nesse caso, como infelizmente é comum nessa região do mundo, a maior parte das mortes são de civis: crianças, idosos, jovens e todos aqueles que se encontram em meio aos centros de combate. Segundo a ONU, cerca de quatro mil pessoas foram mortas durante esses meses de guerra, incluindo trabalhadores humanitários. A OIM (Organização Internacional para Migrações) declarou que mais de três milhões de pessoas abandonaram suas casas e se tornaram refugiadas, buscando abrigo em outros países. Além disso, milhares de famílias que não tiveram a oportunidade de sair do Sudão terão de enfrentar diversas crises, como a falta do abastecimento de água, mantimentos e a igualmente cruel falta de medicamentos e tratamentos médicos em geral. Nos últimos meses, hospitais e centros médicos têm sido bombardeados com frequência.

Em meio às crises – afinal, na região do Sahel não é apenas o Sudão que padece – alguns Estados se propuseram a auxiliar o Sudão e seus vizinhos por meio de ajuda monetária. Os Estados Unidos enviaram cerca de US$ 245 milhões, e a ONU, além da ajuda humanitária com voluntários, arrecadou cerca de US$ 3 milhões para auxiliar na alimentação e saúde de milhares de pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade por conta dos eventos desses últimos meses.

Por enquanto, não há previsão para o término desse conflito, pois os oponentes se mostram dispostos a continuar o combate até as últimas consequências. No entanto, há uma disparidade no número de combatentes entre o exército da RSF em relação ao das Forças Armadas: enquanto o número de soldados da RSF beirava os 70 mil no início do conflito, as Forças Armadas possuíam cerca de 240 mil combatentes, o que deverá ser um fator determinante para o cessar desse embate. Entretanto, números oficiais são impossíveis de obter e, da mesma forma que o final do conflito é incerto, incerto também é o futuro dos milhares de sudaneses que vivem, há décadas, em meio ao caos.

*João Alfredo Lopes Nyegray é doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior e do Observatório Global da Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray.

*Lúcia Marya Mendes da Rocha é aluna do curso de Relações Internacionais e membro do Observatório Global da Universidade Positivo (UP).

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