OPINIÃO - Câncer de próstata e a importância da campanha Novembro Azul

 


A incidência do câncer de próstata vem aumentando em todo o mundo e hoje a doença é o câncer mais comum em homens no Brasil, que tem um perfil epidemiológico bastante parecido com o dos países desenvolvidos, onde esse também é o tumor masculino mais frequente.

O aumento dos diagnósticos de câncer prostático parece guardar relação, não apenas com a facilidade de acesso ao exame de dosagem de PSA (testagem para antígeno específico da próstata no sangue), mas também com o envelhecimento progressivo da população brasileira, reflexo do aumento da expectativa de vida e da inversão da pirâmide demográfica.

Embora a doença seja um dos tumores de evolução mais lenta que acomete o ser humano, o que resulta em tempo de vida geralmente longo após o diagnóstico, mesmo em casos avançados, a qualidade de vida dos pacientes é prejudicada, não só pela ação direta do câncer sobre o organismo, mas também pelos efeitos adversos negativos associados aos tratamentos aos quais os mesmos são submetidos e que impactam primariamente a sexualidade e a autoimagem dos homens.

O conceito de Novembro Azul, como conhecemos hoje, surgiu na Austrália, em meados de 2003, onde o movimento ficou conhecido como “Movember” (da junção das palavras inglesas "november" e “moustache”, que significa "bigode"). Aproveitando as comemorações do Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, comemorado no dia 17 de novembro, posteriormente, diversas entidades ao redor do mundo decidiram abraçar ações de conscientização dirigidas, em especial, aos homens.

Mas vale ressaltar que, em muitos países, o Movember é mais do que uma simples campanha de conscientização. Há reuniões entre os homens com o cultivo de bigodes cheios, símbolo da campanha, onde são debatidos, além do câncer de próstata, outras doenças como o câncer de testículo, depressão masculina, incentivo à saúde do homem, entre outros. Já no Brasil, o objetivo principal é quebrar o preconceito masculino de ir ao médico, em especial ao urologista e, quando necessário, fazer o exame de toque retal.

Efeitos adversos prejudiciais, múltiplos e persistentes, infelizmente podem ocorrer após todas as formas de tratamento ativo para o câncer de próstata. As reações negativas mais comuns incluem queixas urinárias como incontinência, disfunção sexual, como impotência, alterações do hábito intestinal,  além de ondas de calor, rubores e distúrbios do humor, efeitos que podem repercutir no bem-estar e na qualidade de vida do paciente.

Tanto o prognóstico quanto o impacto do tratamento na qualidade de vida devem ser considerados na seleção do caminho mais adequado a seguir para cada paciente. O oncologista e o urologista do paciente discutirão cada caso individualmente, usualmente com a participação de outros profissionais como patologista, rádio-oncologista, médico nuclear e radiologista, com intuito de adequar o tratamento, não só à agressividade da doença, como ao perfil de cada indivíduo. O objetivo da medicina moderna é ser personalizada e é importante pensar não só em ganhos de sobrevida, como também na qualidade de vida, ao reduzir as complicações.

Portanto, faça a sua parte: diga não ao preconceito e à ignorância, marque uma consulta com um urologista de sua confiança independente de sua idade, lembrando que o toque retal só será feito se necessário e de acordo com as queixas e a partir de certa idade. Previna-se! Cuide de sua saúde!

 

Uirá Maíra Resende

Médico Oncologista Clínico, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e Diretor Clínico do Hospital Hemolabor

 


Postagem Anterior Próxima Postagem