Medidas econômicas do mercado interno e externo contribuirão para a desinflação no curto prazo, mas devem trazer reflexos para 2023
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto alcançou a margem de -0,73%, a menor taxa da série histórica, iniciada em 1991, e acumula alta de 5,02% no ano. É o segundo mês consecutivo de "desinflação", com destaque para a queda no grupo dos Transportes (-5,24%), Habitação (-0,37) e Comunicação (-0,30). Conforme aponta análise da XP Inc., o cenário de redução da inflação deve permanecer nos próximos meses, impulsionado, principalmente, pela queda adicional no preço da gasolina e pela desaceleração de preços de bens industriais, relacionados ao recuo dos preços internacionais de commodities e insumos para o nível anterior à guerra.
Desde o mês de junho, a instituição revisou a projeção para o IPCA de 2022, saindo de 9,2% para 7,0%, movimento que se mantém. "O IPCA-15 alcançou algumas taxas históricas ao longo deste ano e desde o mês passado registra queda no resultado mensal. Apesar da deflação no curto prazo, a queda dos preços fica concentrada em poucos itens e não alcança setores essenciais aos consumidores como a alimentação, por exemplo, que corresponde a maior parte das despesas das famílias. A expectativa é que os preços de bens industriais e serviços devem desacelerar, mas ainda permanecer elevados por conta dos custos pressionados e da demanda estimulada por programas de transferências governamentais de renda", explica Vanessa Thomé, líder regional da XP Inc. no Centro-Oeste (foto).
A especialista alerta que apesar de incentivar o consumo, os estímulos fiscais refletem diretamente na projeção de inflação para 2023. "O aumento dos gastos do governo, especialmente via transferência de renda, deve sustentar o consumo e pressionar as expectativas de inflação. Dessa forma, elevamos a projeção de inflação de serviços para o ano que vem, de 6,5% para 7,2%, já considerando que a política monetária deverá ficar mais restritiva no ano, e também dos bens administrados (medicamentos, planos de saúde e transporte coletivo) de 6,7% para 7,7%", afirma Vanessa, destacando que a projeção do IPCA para o próximo ano foi revista passando de 5,0% para 5,5%.
Riscos crescentes à economia no ambiente global
No cenário global, o risco de recessão se intensifica com o fechamento dos resultados do segundo trimestre. As principais economias do país vivem um ambiente desafiador. Nos Estados Unidos, o recuo do PIB nos dois primeiros trimestres marcam uma recessão técnica e o Fed (Banco Central dos EUA) deve levar as taxas de juros para o campo contracionista em suas próximas reuniões. Enquanto o PIB chinês apresentou desempenho pior que o esperado e mesmo com o pacote de estímulos fiscais apresentados pelo governo não deve alcançar a meta de crescimento anual de 5,5% - a projeção da XP é uma expansão de 3,2% no ano. Já na Zona do Euro as perspectivas para o médio prazo são preocupantes, devido às incertezas em relação ao fornecimento de gás russo – ainda em guerra com a Ucrânia - à medida que o inverno se aproxima, e ao impacto de uma política monetária mais restritiva.
"Os movimentos da atividade econômica global têm seus reflexos no mercado interno e, diante de tantas incertezas, as perspectivas para os ativos latino-americanos pioraram. Os preços internacionais das commodities caíram nas últimas semanas, refletindo a desaceleração da demanda global. Apesar de nossas expectativas de que as cotações das commodities permanecerão elevadas ao longo do ano, a queda na margem combinada com o aumento da aversão ao risco global enfraquece as projeções de um desempenho sólido dos ativos da América Latina em 2022. Além disso, para alguns países da região, incertezas políticas domésticas e a deterioração das contas correntes são fatores agravantes", pontua Vanessa.
Diversificação é o melhor caminho
Todos os movimentos do mercado interno e externo devem ser observados no momento da tomada de decisão dos investimentos, aliado aos objetivos e ao perfil do investidor. Em um cenário desafiador como este, a diversificação continua sendo a melhor alternativa. "A renda fixa continua atrativa, com boas taxas de retorno para quem tem um perfil menos arrojado. Já a renda variável é mais sensível aos fatores externos, tanto para valorização quanto para eventuais perdas, mas o histórico nos mostra que é possível a recuperação em médio prazo. O importante neste momento é ter paciência e consciência na tomada de decisões, apostar em uma carteira variada e buscar, sempre que necessário, a orientação de profissionais especializados", frisa a especialista em investimento.
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