Opinião: Sérgio Moro volta ao Paraná

Crédito: Rebecca Leão


Francis Ricken*


Sérgio Moro teve sua candidatura barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, devido à mudança no último dia do prazo de seu domicílio eleitoral para terras paulistas. Moro, depois de ter sua candidatura à presidência da República e ao Senado Federal emparedada pelo União Brasil, via a possibilidade de concorrer por São Paulo a uma vaga de deputado federal, tendo em vista sua possível capacidade de votação, o candidato teria condições de se tornar um puxador de votos, aumentado as vagas do União Brasil na Câmara dos Deputados. A estratégia não deu certo, tendo em vista a manifestação do TRE/SP, que não foi contestada pelo futuro candidato. Restou a Moro voltar a pensar em uma candidatura no Estado do Paraná, o que para ele não parece ser suficiente.

Moro sempre teve pretensões maiores no âmbito político. Inicialmente, tentou a candidatura à presidência pelo Podemos, partido do senador Álvaro Dias. Depois de alguns meses de campanha nacional, observou que a política não é para amadores e que seus adversários eram muito maiores do que ele imaginava. Moro descobriu que seu antigo aliado, Jair Bolsonaro, não iria deixar caminho aberto para sua candidatura devido às grandes articulações políticas junto ao centrão e a partidos de direita no Congresso Nacional. Moro também encontrou barreiras dentro do próprio Podemos, que observava sua potencial candidatura ao Senado Federal pelo Paraná como uma barreira à reeleição eterna de Álvaro Dias. Outro conflito de interesse dentro do partido era a candidatura de seu colega de lava-jato, Deltan Dallagnol à Câmara dos Deputados. Sem muito para onde crescer, Moro observou a saída do partido como necessária e a mudança de domicílio eleitoral como a possibilidade de ser um nome forte na política nacional, e o recém-criado União Brasil parecia ser o melhor local para suas pretensões. Na chegada ao novo partido, Moro foi rebaixado de candidato à presidência para senador e, posteriormente, para deputado federal, tendo seu nome rifado em público por colegas de partido. Talvez Moro não tenha se atentado, mas o União Brasil é a fusão entre o antigo Democratas e o PSL, partidos que dão sustentação ao governo de Jair Bolsonaro e que jamais trairiam o presidente numa possível candidatura de Moro a qualquer cargo relevante. O prêmio de consolação seria a candidatura a deputado federal pelo União Brasil em São Paulo, onde o ex-juiz poderia ter um potencial de votos que o colocasse em destaque no Poder Legislativo, mas nem isso foi possível.

Moro volta ao Paraná em cima do processo eleitoral, tendo que construir pontes que foram queimadas na sua mudança para São Paulo, algo que não estava nos seus planos. Mas, os problemas não terminaram. O candidato terá que enfrentar o diretório estadual do União Brasil, dominado por aliados do presidente Bolsonaro, sua maior pedra no sapato. A candidatura ao governo do Estado está fora de cogitação, tendo em vista a grande ligação do governador Ratinho Junior com o governo federal, e a de senador começa a fazer água. Moro tem grande potencial de ser eleito para cargos legislativos no Estado do Paraná, mas o candidato se apequenou no último ano, pois deixou de ser relevante no debate nacional, mudou de partido, mudou de Estado, voltou para o Estado de origem como prêmio de consolação e ganhou a antipatia de muitos políticos e antigos aliados. Me parece que os grandes adversários de Sérgio Moro na sua entrada oficial na política não estão na esquerda, mas muito próximos de seu convívio ou na inexperiência do candidato.

*Francis Ricken é advogado, mestre em Ciência Política e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).

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